Quem sou eu

Minha foto
Dirigente Espiritual de Umbanda, iniciou na Umbanda no ano de 1997, filho carnal de dirigentes umbandistas. Fundador da Casa de Umbanda Lar de Sá Maria - Comunhão da Luz, inaugurado no dia 20 de janeiro de 2009, também dirigido por Madrinha Camila Pavão.

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Existe DIFERENÇA entre Umbanda e Candomblé? Por Padrinho Catucá.

 

Não tem como deixar de começar esse texto expressando o respeito por ambas às religiões, dizer que são religiões magníficas quando praticadas com amor e fundamentos.


Embora sejam religiões com características fortes do africanismo, existe sim muita diferença entre elas, começando pelo alicerce espiritual, onde uma é totalmente baseada no conceito de 'Divindade' e a outra no conceito de 'Espírito', diante essa estrutura você notará que toda a filosofia e ótica litúrgica desses segmentos são totalmente diferenciadas.

Você precisa entender que assim como não existe religião melhor que a outra, não existe fundamento ou filosofia melhor, isso se enquadra entre Umbanda e Candomblé, essas religiões são melhores PARA os seus seguidores, para a visão, sentimentos e o bem estar deles, ponto.

Historicamente Umbanda e Candomblé são brasileiras, entretanto, o Candomblé é alicerçado na matriz africana, o que significa que ele é totalmente baseado em tradições do africanismo, tentando ao máximo preservar essas tradições do modo em que o africano trazido forçadamente em período africanista ao Brasil as formalizou ao adaptar seus costumes, culturas e rituais diante as terras brasileiras e condições em que vivia. É importante ressaltar que o Candomblé não se faz único, como uma religião de um único dogma, dentro dessa religião existem três grandes pilares de nações africanas, advindos das regiões: Yorubá, Daomênia e Bantu (Congo-Angola), onde ao se falar de Divindades existem também três pilares: para os nagôs/yorubás é o Culto ao Orixá, para o Daomênio (Povo Efon) é o Culto ao Vodun e para o povo Bantu é o Culto ao Nkisi/Mukixi. Dentro desses três pilares existem segmentações que o Candomblé chama de raízes, isso reflete a questão do povo de cada nação ter um modo de cultuar essas divindades e, no Candomblé isso foi traçado como "raízes". Ex: dentro da nação Bantu (Congo-Angola) existem raízes, que são comunidades descendentes de povoados bantu que cultuam suas divindades com algumas particularidades e próprios dogmas.

Cada nação do Candomblé tem suas raízes, como disse anteriormente, as quais representam comunidades específicas que seguem dogmas próprios ao modo de cultuarem suas divindades, essas raízes se estruturam como famílias e uma literalmente segue o compasso litúrgico da outra, sem modificar absolutamente nada do que era feito pelos ancestrais.


Para o Candomblé de origem Nagô/Yorubá e Fon, as divindades são representatividades de Deuses mitológicos, onde elas têm a própria mitologia baseada na filosofia e leitura de cada uma dessas origens. Já para o povo Bantu (Congo-Angola), as divindades são a manifestação direta de Energias Divinizadas da natureza, não existe uma mitologia para essas energias, porque se trata de uma filosofia ligada a manifestação energética em forma de vida da natureza e seus campos diretamente no praticante.

Perceba, indiferentemente da origem, panteão ou nação do Candomblé, a crença e a prática não são alicerçadas em espíritos e muito menos em mediunidade, toda crença é voltada para uma filosofia de manifestação de Deuses Divinizados e/ou Energias Divinizadas que se manifestam no despertar do praticante, diante uma ótica a qual, essa força espiritual nasce de dentro do praticante, assim como um vulcão que entra em erupção, ocorre de dentro para fora e não de fora para dentro, por isso a filosofia do Candomblé é totalmente diferente da filosofia umbandista, porque seja na ótica dos Deuses ou diretamente das forças da Natureza, o Candomblé lida em suas crenças diretamente com essas forças, com essas energias e, através das liturgias alicerçadas em África, o Candomblé segue o que chamam de INICIAÇÃO PARA O SANTO, posteriormente todos os rituais se coligam a essa filosofia.

"Mas, eu já vi candomblecista trabalhando com Caboclo?"

Sim, o CANDOMBLECISTA e não o Candomblé! Entenda, muitos candomblecistas seguem o caminho da mediunidade de maneira PARALELA e levam para dentro do mesmo espaço físico esse caminho, o que não significa que esse caminho pertence ao Candomblé.

A maioria acredita que a Umbanda foi fundada em 1908 no estado do Rio de Janeiro, isso seria uma resposta simples e bem resumida, mas eu não interpreto o surgimento da Umbanda por esse lado, respeito Zélio de Moraes e admiro a sua história, entretanto, não como fundador.

Enfim, a Umbanda dentro da minha visão foi alicerçada pela junção do povo Bantu e Indígena no Brasil, posteriormente sofreu influencias dos descendentes europeus e até mesmo dos demais africanos como os nagôs/yorubás. Em terras bantu, sempre existiu o culto aos "Bakulu", que são espíritos ancestrais dessa região, seus praticantes incorporavam os Bakulu (espíritos ancestrais) para receberem a 'Magia da Cura' através de consultas e passes energéticos, a palavra "Umbanda" advém do vocábulo Kimbundu dos Bantu e significa justamente "Magia da Cura". Resumindamente, essa cultura espiritual também chegou ao Brasil e se miscigenou com os indígenas dos cultos de Jurema Sagrada, esses que cultuavam e incorporavam seus ancestrais indígenas, que conhecemos como "Caboclos", daí deu-se origem a junção do culto aos Caboclos e Pretos Velhos no Brasil. Posteriormente houveram muitas miscigenações e implantações culturais que configuraram a Umbanda que conhecemos hoje, porém, esse é o alicerce histórico dela, também advindo do período escravagista.

A religião de Umbanda tem como base cultural a miscigenação Afro-indígena-brasileira, a junção dos africanos e indígenas no Brasil é a estrutura dessa religião e as demais junções vieram com a "brasileiridade" que todos conhecem, por isso a Umbanda reflete muito a bandeira brasileira da miscigenação de povos e culturas.

Embora esse alicerce histórico, a religião de Umbanda é estruturada pela mediunidade através da manifestação dos espíritos, os quais implantam doutrinas e regras para cada casa de Umbanda, onde também influenciam com suas naturezas reencarnatórias, levando aos praticantes crenças e costumes de vidas passadas, tudo que se faz na Umbanda é através dos ESPÍRITOS, até mesmo o culto á natureza e suas manifestações!


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

 


Ética, respeito e simplicidade são ferramentas fundamentais para o aprendizado e o bom convívio, essências que não podem faltar numa comunidade espiritual, pois, não adianta fundamento e toda uma tradição se não tiver essência, é como servir um banquete sem tempero!

Um dirigente e/ou sacerdote, deve ser alguém que trabalhe constantemente para evitar que sentimentos de vaidade, prepotência e egocentrismo azedem a refeição que é colocada na panela com fundamentos e tradições.

Você pode ter toda uma bagagem, toda uma tradição, toda uma linhagem, todo um conhecimento, mas se não tiver de fato maturidade, humildade, reforma íntima e SABEDORIA, o conhecimento e a tradição não valerão de nada!

Não é sobre o que você tem no balaio, é sobre o que faz e como faz com o que tem!

Existe uma diferença entre esbanjar conhecimento de repassar sabedoria! 

Erê não é a Criança que cultuamos na Umbanda - Padrinho Catucá

 


A nossa religião é voltada por uma cultura sincrética enorme, o que faz com que ela use de corruptelas e linguísticas de outras culturas para denominar instrumentos, alguns rituais e principalmente nome dos guias espirituais, não foi diferente com a palavra "Erê" advinda da língua yorubá.

Erê, ou em sua origem yorubá, "Iré" significa "brincadeira; divertimento". Essa palavra foi designada a uma manifestação ligada ao elemento da infantilidade que se manifesta diretamente em iniciados no Candomblé de origem Nagô/Yorubá, o Erê não é o espírito de uma criança ou um espírito infantil, tem um outro significado para o Candomblé desta origem, o qual não vou me aprofundar porque não é meu segmento, entretanto, posso dizer que o Erê é um estado de infância que o iniciado se encontra através dessa manifestação elementar, ligada a divindade a qual ele se iniciou.

Na Umbanda se cultua espíritos, aqueles que encarnaram, desencarnaram, reencarnaram, desencarnaram novamente e então cumprem suas missões como orientadores espirituais, sendo assim, os espíritos que se manifestam na Umbanda não são Erês, são popularmente conhecidos como "Ibejadas" por uma assimilação sincrética com a divindade Ibeji dos yorubás, de onde saiu essa corruptela usada na Umbanda. Essas CRIANÇAS são espíritos e nada têm a ver com a manifestação do Erê do Candomblé de origem Nagô/Yorubá.

Mesmo que popularmente você chame as crianças de Umbanda de "Erê", tenha consciência do que cada uma dessas manifestações significa e quais são os objetivos delas, para que você não caia no erro de assimilar uma coisa com a outra na prática.

Que a criança interior nunca morra dentro de nós!

sábado, 25 de junho de 2022

O que é o sincretismo religioso no Brasil? Por Carlos Catucá.

 


O que é o sincretismo religioso no Brasil? 
Por Carlos Catucá.

Para descrever a relação do sincretismo com a Umbanda é preciso ir muito mais além do que simplesmente falar do sincretismo religioso de modo geral. Portanto, vamos falar do sincretismo religioso no período escravista sem o vínculo com a religião de Umbanda, deixamos essa parte para um outro texto.

Os africanos tiveram suas terras invadidas pelos europeus no ano de 1480, num período de 50 anos os africanos foram escravizados em seus próprios territórios, nesse caso no território Bantu (Kongo-Angola), especificamente em Soyo e em algumas outras regiões. Nessa época escravista, já houve uma inquisição religiosa advinda da Igreja Católica, que obrigava os africanos a se converterem para o cristianismo católico e mudarem seus nomes para nomes europeus, desta maneira quando eram batizados na igreja já recebiam o novo nome imposto por seus inquisidores. Muitos africanos ao chegarem no Brasil já estavam batizados na igreja e com novos nomes, também falando a língua portuguesa, pois, eram obrigados a entrarem nos padrões europeus. 

Ainda em África, em terras bantos, os africanos utilizaram de estratégias para manterem suas crenças, ou seja, eles começaram a chamar suas divindades com o nome dos santos da igreja para não serem percebidos. É importante ressaltar, que as divindades do panteão Bantu (Kongo-Angola) não são os Orixás, e sim os Inquices e Mukixis (na maneira aportuguesada de se escrever); são energias divinizadas da natureza, essas que nunca tiveram vida terrena e que também não são deuses mitológicos como os Orixás.

Os bantos presenciaram a fase mais difícil da escravidão, chegaram ao Brasil em 1530 e tiveram literalmente um período de massacre em massa, não somente relacionado as vidas, mas também culturas, segmentos, crenças, línguas e demais. Duzentos anos após a chegada dos bantos no Brasil, chegaram os povos Nagôs/Yorubás, onde pegaram um período mais "frouxo" da escravidão que permitia um pouco mais de acessibilidade à suas culturas, desta maneira o povo nagô trouxe a crença nos Orixás e a língua Yorubá, língua essa que entre comunidades relacionadas ao africanismo se miscigenou e se espalhou com muita facilidade. 

Os nagôs, encontraram no Brasil uma base de estratégias e segmentos já construída pelos bantos, uma dessas bases foi o sincretismo religioso, com isso os nagôs assimilaram suas divindades, os Orixás aos santos da Igreja católica. Não fizeram isso dentro de uma hierarquia ou um menu de qual sincretismo era o correto, apenas assimilaram e essas assimilações se diferenciaram conforme localizações diferentes.

O sincretismo é uma estratégia de sobrevivência, ou seja, o nagô ao invés de chamar Ogum pelo nome, ele passou em regiões sul e sudeste a chamá-lo de São Jorge, em regiões nordestes a chamá-lo de Santo Antônio e assim foi com as demais divindades. Em dias de festas aos santos da igreja, os nagôs aproveitavam para fazerem rituais com um pouco mais de liberdade a suas divindades, diziam que estavam fazendo uma festa para o santo da igreja ao modo deles, quando na realidade estavam cultuando seus orixás, uma estratégia para confundir os brancos inquisidores da época escravista.

Após o ano de 1888, com a abolição dos escravos, houve muita perseguição aos descendentes africanos, seus segmentos culturais e religiosos, afinal, a escravidão havia acabado no papel e não na prática. Um dos maiores exemplos disso foi a capoeira que na época por lei havia sido determinada como marginalidade e proibida, o samba que era taxado pela sociedade racista com cultura escravista como algo negativo e frequentado por cachaceiros, vadios e marginais, assim o mesmo reflexo cultural escravista se estendeu as religiões afro-brasileiras, que por muitas décadas sob autorização legal tinham suas casas espirituais invadidas por policiais e totalmente agredidas: quebravam assentamentos, altares e outros.

Com essa perseguição ainda existente a estratégia do sincretismo foi mais a frente, foi então que se via muitas casas de Candomblé camuflando seus altares e redores com imagens e nomes de santos católicos, no máximo um misto em seus nomes com a doutrina espírita. 

A Umbanda é uma religião miscigenada com diversas linguagens culturais, sendo assim a Umbanda se tornou uma religião inteiramente sincrética, porque nela não existe apenas esse sincretismo histórico, digamos que ela adotou um primeiro sincretismo com os nagôs para depois colocar o sincretismo entre divindades africanas e santos católicos em seus altares, mas, deixaremos esse assunto para um outro tópico, já que para explorá-lo se faz necessária a inteiração sobre os povos nagôs ao entender as diferenças entre orixás e guias espirituais.

terça-feira, 21 de junho de 2022

Suas folhas caíram serenas, Jurema; dentro desse congá - Por Carlos Catucá



Suas folhas caíram serenas, Jurema
Dentro desse congá

(Por Carlos Catucá.)

Um nome muito conhecido e falado na religião de Umbanda é Jurema, a maioria dos umbandistas assimila esse nome a um espírito mentor com arquétipo indígena, uma Cabocla de Penas chamada Jurema. Entretanto, a maior importância e referência desse nome está totalmente ligada a uma religião brasileira, ou melhor, a mais antiga religião do país: a JUREMA SAGRADA.

Jurema Sagrada é uma religião do panteão indígena brasileiro, a qual muitas vertentes históricas apontam que suas origens advieram das Aldeias Tupis e Tupinambás, a maior referência da Jurema Sagrada é a Árvore que se chama Jurema, todo o culto é voltado em cima de histórias e rituais que envolvem essa árvore. Da Jurema se faz uma bebida que se torna uma espécie de chá, o qual é servido em rituais específicos para praticantes do culto, também se utiliza folhas dessa árvore para fumo, defumações, chás, banhos e outros, se utiliza de sua madeira para se fazer cachimbos, os quais são instrumentos primordiais na religião. 

A espiritualidade cultuada nesse segmento é totalmente voltada aos ancestrais indígenas, os quais são evocados através de transes, ou seja, de incorporações mediúnicas, onde dão passes, consultas e receitas para os cuidados espirituais relacionados a saúde. No culto da Jurema Sagrada são utilizados muitos cantos, orações e rezas diante danças e o som do instrumento conhecido como Maracá ou Maraca. A Jurema Sagrada tem uma estrutura totalmente nativa brasileira, rituais muito em comuns com situações africanistas de terreiros, o exemplo são danças, defumações e fios de contas, com o passar do tempo a Jurema Sagrada foi se miscigenando com africanos em situações escravistas e então foram adaptadas algumas questões, como os toques de tambores (ilús) que mesmo introduzidos nos cultos de Jurema, não são considerados parte de seus rituais ou de alguma designação hierárquica da religião. 

A Jurema também se miscigenou com o branco e com o catolicismo popular, onde se fez a presença dos Santos da Igreja Católica, porém, diferente da Umbanda que assimila Santos a Divindades através do sincretismo, a Jurema os têm como eles são, diante a fé católica. O primeiro envolvimento com miscigenações em territórios que não eram aldeias da Jurema, foi no norte e nordeste do país, em regiões rurais, onde começaram a presença dos Mestres e Mestras de Jurema, que seriam os dirigentes responsáveis pelos cultos, depois esses Mestres e Mestras começaram a se manifestar nos praticantes da religião, temos alguns nomes conhecidos, como: Malunguinho, José Pelintra, Maria Florzinha, Maria Luziara, Pilão Deitado, José Pretinho, Zé da Virada, Paulina e outros.  

Toda a base da Jurema é indígena e foi essa base que deu possibilidade para quaisquer segmentos que cultuam os conhecidos CABOCLOS DE PENAS. Todo Caboclo partiu da Jurema Sagrada, são espíritos que migraram dessa base espiritual, desse segmento para outros, como a Umbanda, o Candomblé de Caboclo, o Tambor de Mina, etc. Os Caboclos levaram a esses segmentos a essência do Brasil indígena, das matas e florestas, das danças e rituais como Toré e muitas cantigas, a religião de Umbanda tem muito mais em comum com a Jurema Sagrada do que com o Candomblé, do contrário que muitos pensam e assimilam. 

Quando se canta: "Vou abrir minha Jurema, vou abrir meu Juremá", a referência é ao Culto, ou seja, se trata de uma cantiga advinda da Jurema Sagrada, a qual denominou a religião, a bebida e rituais com nome de "Jurema", a palavra "Juremá" traz referência a uma cidade encantada, ou seja, a uma espécie de plano espiritual onde vivem os Caboclos Indígenas.

A cantiga: "O Juremê, o Juremá, suas folhas caíram serenas, Jurema; dentro desse congá", essa cantiga usa "as folhas" como metáfora ao referir-se aos Caboclos que chegaram ao altar, os Caboclos que vieram do Juremá e do segmento de Jurema Sagrada.

Uma curiosidade: Jurema Sagrada e Catimbó são exatamente a mesma coisa, ocorre que a sociedade começou a chamar a religião de "Catimbó" por conta do Cachimbo que é um instrumento marcante para todo juremeiro (praticante da religião de Jurema Sagrada).


domingo, 12 de junho de 2022

POR QUE POMBA GIRA? (Por Carlos Catucá)

 


POR QUE POMBA GIRA?
Por Carlos Catucá.

A maioria das pessoas já ouviu falar da entidade espiritual que se manifesta em diversos segmentos religiosos afro-brasileiros, a Pomba Gira. Nesse texto, não falarei sobre essa querida entidade nos aspectos espirituais, o texto será referente a palavra "Pomba Gira"; de onde surge essa palavra e o que ela significa?

Por que Pomba Gira?

Tanto na cultura dos segmentos afros como os indígenas, a oralidade é uma das ferramentas mais eficazes para se compartilhar saberes, ou seja, todos os tipos de conhecimentos. Essa cultura estimula a comunidade praticar e vivenciar o dia a dia dos rituais, dos trabalhos, dos preparativos e outros; sendo assim, algumas palavras tanto das aldeias indígenas como das nações africanas foram distorcidas no Brasil, dando indícios para corruptelas que se tornaram em novas palavras com outros significados, é o caso de "Pomba Gira".

O povo Bantu (Kongo-Angola) foi o primeiro a ser trazido para o Brasil em propósito da escravidão, desta maneira, com ele também adveio segmentos, culturas, línguas e outros. Dentre as crenças religiosas, existe um grupo de divindades do panteão Bantu que são denominadas pela língua Kimbundu como "Inquices" e "Mukixis" (aportuguesando as palavras), nesse grupo existe uma divindade masculina referente aos caminhos que se chama "PAMBU NJILA", ao qual soa na pronúncia muito próximo de "Pambunjila" e algumas pessoas pronunciam como "Pambungira"

Sim, mas porque assimilaram essa divindade masculina a uma guardiã feminina?

Duzentos anos após a vinda dos Bantos para o Brasil, chegaram os povos do panteão Nagô/Yorubá, digamos que esses povos presenciaram uma fase mais "frouxa" da escravidão, onde puderam manter seu idioma com um pouco mais de liberdade, já que os idiomas do povo Bantu foi mantido em apenas algumas palavras dentro das culturas religiosas. Os Nagôs espalharam entre a cultura afro no Brasil a língua Yorubá, a qual faz presença até hoje em diversos segmentos, até mesmo os que nada tem a ver com os povos do panteão Nagô/Yorubá. Muitas outras culturas africanas no Brasil adotaram palavras da língua Yorubá como uma espécie de sincretismo, assimilando suas divindades e espíritos as divindades dos povos nagôs, divindades essas que são conhecidas como Orixás.

A Umbanda fez uma grande assimilação linguística entre seus espíritos mentores e as divindades do panteão Nagô/Yorubá, ou seja, os orixás. Os guardiões, que são espíritos mentores cujo se manifestam na Umbanda no aspecto masculino, foram assimilados linguisticamente ao Orixá masculino Yorubá, ESÙ (Exu). Com a adaptação sincrética da língua yorubá em outros segmentos afro-brasileiros, alguns praticantes do Candomblé de Angola (dos bantos) chamavam suas divindades com o nome das divindades dos nagôs, com isso, a divindade masculina "Pambu Njila" passou a ser chamada de "Exu", ou seja, dentro do culto se saudava Exu, mas, cantava para Pambu Njila.

Em algum momento, o umbandista viu e escutou essa situação e então deduziu que Pambu Njila seria o feminino de Exu, justamente por ser um nome que soa como feminino, mesmo sendo masculino. Desta maneira, se o guardião era chamado de Exu, o umbandista denominou a guardiã de "Pambu Njila". Entretanto, sem saber o que era definitivamente a divindade Bantu Pambu Njila, alguns umbandistas por conta da oralidade começaram a chamar de "Bambugira", outros de "Bombagira" e os demais de "Pomba Gira".

Eis que então, surge a denominação para o espírito mentor, a Guardiã da Umbanda e de outros segmentos, Pomba Gira.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Se deu as mãos, é Macumba!

 


Se deu as mãos, é macumba!
Por Carlos Catucá.

Há um costume dos bantos muito comum, ao qual sempre foi praticado em diversas manifestações litúrgicas de seus segmentos espirituais; os bantos tinham o costume de formar um círculo e dar as mãos, em alguns rituais esse círculo era formado ao redor de uma árvore com oferendas aos pés da árvore, oferendas essas que eram ofertadas para as divindades com propósito de saúde em todos os aspectos, nunca para fazer mal a alguém. 

O ato de "unir as mãos" se chamava "Makumba", era uma junção das palavras do vocábulo Kimbundu 'MAKU' e 'NBA', uma significa "MÃOS" e a outra "UNIÃO". A grosso modo, a palavra "Makumba" significa: "MÃOS UNIDAS".

No Brasil, por essa palavra sempre estar coligada ao ato de cantar, dar as mãos, unir-se ao redor de uma árvore com oferendas aos pés dela, a palavra "Macumba" se tornou algo dirigido as oferendas, logo a sociedade preconceituosa se apoderou da palavra de maneira pejorativa, usando-a com objetivo de ofender os religiosos de matriz africana, os chamando de "macumbeiros"

Percebe-se que o preconceito de fato é ignorante, porque todo ato de dar as mãos, ou melhor, unir as mãos é uma "Macumba", seja numa igreja, numa praça pública ou num terreiro de matriz africana, entretanto, o preconceito usa de uma palavra positiva para ofender os religiosos afro-brasileiros. 

Uma curiosidade, a palavra "Macumba" também foi relacionada a um instrumento feito da madeira de uma árvore africana, o que dá indícios que seja a árvore tradicional onde esse manifesto deu-se início.