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Dirigente Espiritual de Umbanda, iniciou na Umbanda no ano de 1997, filho carnal de dirigentes umbandistas. Fundador da Casa de Umbanda Lar de Sá Maria - Comunhão da Luz, inaugurado no dia 20 de janeiro de 2009, também dirigido por Madrinha Camila Pavão.

sábado, 25 de junho de 2022

O que é o sincretismo religioso no Brasil? Por Carlos Catucá.

 


O que é o sincretismo religioso no Brasil? 
Por Carlos Catucá.

Para descrever a relação do sincretismo com a Umbanda é preciso ir muito mais além do que simplesmente falar do sincretismo religioso de modo geral. Portanto, vamos falar do sincretismo religioso no período escravista sem o vínculo com a religião de Umbanda, deixamos essa parte para um outro texto.

Os africanos tiveram suas terras invadidas pelos europeus no ano de 1480, num período de 50 anos os africanos foram escravizados em seus próprios territórios, nesse caso no território Bantu (Kongo-Angola), especificamente em Soyo e em algumas outras regiões. Nessa época escravista, já houve uma inquisição religiosa advinda da Igreja Católica, que obrigava os africanos a se converterem para o cristianismo católico e mudarem seus nomes para nomes europeus, desta maneira quando eram batizados na igreja já recebiam o novo nome imposto por seus inquisidores. Muitos africanos ao chegarem no Brasil já estavam batizados na igreja e com novos nomes, também falando a língua portuguesa, pois, eram obrigados a entrarem nos padrões europeus. 

Ainda em África, em terras bantos, os africanos utilizaram de estratégias para manterem suas crenças, ou seja, eles começaram a chamar suas divindades com o nome dos santos da igreja para não serem percebidos. É importante ressaltar, que as divindades do panteão Bantu (Kongo-Angola) não são os Orixás, e sim os Inquices e Mukixis (na maneira aportuguesada de se escrever); são energias divinizadas da natureza, essas que nunca tiveram vida terrena e que também não são deuses mitológicos como os Orixás.

Os bantos presenciaram a fase mais difícil da escravidão, chegaram ao Brasil em 1530 e tiveram literalmente um período de massacre em massa, não somente relacionado as vidas, mas também culturas, segmentos, crenças, línguas e demais. Duzentos anos após a chegada dos bantos no Brasil, chegaram os povos Nagôs/Yorubás, onde pegaram um período mais "frouxo" da escravidão que permitia um pouco mais de acessibilidade à suas culturas, desta maneira o povo nagô trouxe a crença nos Orixás e a língua Yorubá, língua essa que entre comunidades relacionadas ao africanismo se miscigenou e se espalhou com muita facilidade. 

Os nagôs, encontraram no Brasil uma base de estratégias e segmentos já construída pelos bantos, uma dessas bases foi o sincretismo religioso, com isso os nagôs assimilaram suas divindades, os Orixás aos santos da Igreja católica. Não fizeram isso dentro de uma hierarquia ou um menu de qual sincretismo era o correto, apenas assimilaram e essas assimilações se diferenciaram conforme localizações diferentes.

O sincretismo é uma estratégia de sobrevivência, ou seja, o nagô ao invés de chamar Ogum pelo nome, ele passou em regiões sul e sudeste a chamá-lo de São Jorge, em regiões nordestes a chamá-lo de Santo Antônio e assim foi com as demais divindades. Em dias de festas aos santos da igreja, os nagôs aproveitavam para fazerem rituais com um pouco mais de liberdade a suas divindades, diziam que estavam fazendo uma festa para o santo da igreja ao modo deles, quando na realidade estavam cultuando seus orixás, uma estratégia para confundir os brancos inquisidores da época escravista.

Após o ano de 1888, com a abolição dos escravos, houve muita perseguição aos descendentes africanos, seus segmentos culturais e religiosos, afinal, a escravidão havia acabado no papel e não na prática. Um dos maiores exemplos disso foi a capoeira que na época por lei havia sido determinada como marginalidade e proibida, o samba que era taxado pela sociedade racista com cultura escravista como algo negativo e frequentado por cachaceiros, vadios e marginais, assim o mesmo reflexo cultural escravista se estendeu as religiões afro-brasileiras, que por muitas décadas sob autorização legal tinham suas casas espirituais invadidas por policiais e totalmente agredidas: quebravam assentamentos, altares e outros.

Com essa perseguição ainda existente a estratégia do sincretismo foi mais a frente, foi então que se via muitas casas de Candomblé camuflando seus altares e redores com imagens e nomes de santos católicos, no máximo um misto em seus nomes com a doutrina espírita. 

A Umbanda é uma religião miscigenada com diversas linguagens culturais, sendo assim a Umbanda se tornou uma religião inteiramente sincrética, porque nela não existe apenas esse sincretismo histórico, digamos que ela adotou um primeiro sincretismo com os nagôs para depois colocar o sincretismo entre divindades africanas e santos católicos em seus altares, mas, deixaremos esse assunto para um outro tópico, já que para explorá-lo se faz necessária a inteiração sobre os povos nagôs ao entender as diferenças entre orixás e guias espirituais.

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