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Dirigente Espiritual de Umbanda, iniciou na Umbanda no ano de 1997, filho carnal de dirigentes umbandistas. Fundador da Casa de Umbanda Lar de Sá Maria - Comunhão da Luz, inaugurado no dia 20 de janeiro de 2009, também dirigido por Madrinha Camila Pavão.

terça-feira, 21 de junho de 2022

Suas folhas caíram serenas, Jurema; dentro desse congá - Por Carlos Catucá



Suas folhas caíram serenas, Jurema
Dentro desse congá

(Por Carlos Catucá.)

Um nome muito conhecido e falado na religião de Umbanda é Jurema, a maioria dos umbandistas assimila esse nome a um espírito mentor com arquétipo indígena, uma Cabocla de Penas chamada Jurema. Entretanto, a maior importância e referência desse nome está totalmente ligada a uma religião brasileira, ou melhor, a mais antiga religião do país: a JUREMA SAGRADA.

Jurema Sagrada é uma religião do panteão indígena brasileiro, a qual muitas vertentes históricas apontam que suas origens advieram das Aldeias Tupis e Tupinambás, a maior referência da Jurema Sagrada é a Árvore que se chama Jurema, todo o culto é voltado em cima de histórias e rituais que envolvem essa árvore. Da Jurema se faz uma bebida que se torna uma espécie de chá, o qual é servido em rituais específicos para praticantes do culto, também se utiliza folhas dessa árvore para fumo, defumações, chás, banhos e outros, se utiliza de sua madeira para se fazer cachimbos, os quais são instrumentos primordiais na religião. 

A espiritualidade cultuada nesse segmento é totalmente voltada aos ancestrais indígenas, os quais são evocados através de transes, ou seja, de incorporações mediúnicas, onde dão passes, consultas e receitas para os cuidados espirituais relacionados a saúde. No culto da Jurema Sagrada são utilizados muitos cantos, orações e rezas diante danças e o som do instrumento conhecido como Maracá ou Maraca. A Jurema Sagrada tem uma estrutura totalmente nativa brasileira, rituais muito em comuns com situações africanistas de terreiros, o exemplo são danças, defumações e fios de contas, com o passar do tempo a Jurema Sagrada foi se miscigenando com africanos em situações escravistas e então foram adaptadas algumas questões, como os toques de tambores (ilús) que mesmo introduzidos nos cultos de Jurema, não são considerados parte de seus rituais ou de alguma designação hierárquica da religião. 

A Jurema também se miscigenou com o branco e com o catolicismo popular, onde se fez a presença dos Santos da Igreja Católica, porém, diferente da Umbanda que assimila Santos a Divindades através do sincretismo, a Jurema os têm como eles são, diante a fé católica. O primeiro envolvimento com miscigenações em territórios que não eram aldeias da Jurema, foi no norte e nordeste do país, em regiões rurais, onde começaram a presença dos Mestres e Mestras de Jurema, que seriam os dirigentes responsáveis pelos cultos, depois esses Mestres e Mestras começaram a se manifestar nos praticantes da religião, temos alguns nomes conhecidos, como: Malunguinho, José Pelintra, Maria Florzinha, Maria Luziara, Pilão Deitado, José Pretinho, Zé da Virada, Paulina e outros.  

Toda a base da Jurema é indígena e foi essa base que deu possibilidade para quaisquer segmentos que cultuam os conhecidos CABOCLOS DE PENAS. Todo Caboclo partiu da Jurema Sagrada, são espíritos que migraram dessa base espiritual, desse segmento para outros, como a Umbanda, o Candomblé de Caboclo, o Tambor de Mina, etc. Os Caboclos levaram a esses segmentos a essência do Brasil indígena, das matas e florestas, das danças e rituais como Toré e muitas cantigas, a religião de Umbanda tem muito mais em comum com a Jurema Sagrada do que com o Candomblé, do contrário que muitos pensam e assimilam. 

Quando se canta: "Vou abrir minha Jurema, vou abrir meu Juremá", a referência é ao Culto, ou seja, se trata de uma cantiga advinda da Jurema Sagrada, a qual denominou a religião, a bebida e rituais com nome de "Jurema", a palavra "Juremá" traz referência a uma cidade encantada, ou seja, a uma espécie de plano espiritual onde vivem os Caboclos Indígenas.

A cantiga: "O Juremê, o Juremá, suas folhas caíram serenas, Jurema; dentro desse congá", essa cantiga usa "as folhas" como metáfora ao referir-se aos Caboclos que chegaram ao altar, os Caboclos que vieram do Juremá e do segmento de Jurema Sagrada.

Uma curiosidade: Jurema Sagrada e Catimbó são exatamente a mesma coisa, ocorre que a sociedade começou a chamar a religião de "Catimbó" por conta do Cachimbo que é um instrumento marcante para todo juremeiro (praticante da religião de Jurema Sagrada).


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